sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Pensamentos de Santa Gertrudes de Halfta

PENSAMENTOS DE SANTA GERTRUDES DE HELFTA "Ó Amor, o ardor de tua divindade abriu-me o Coração dulcíssimo de Jesus! Ó Coração do qual mana toda doçura. Ó Coração transbordante de ternura. Ó Coração repleto de caridade!" "Beber desta fonte salvadora significa restituir a si a própria verdade, ofuscada pelo pecado, para recuperar a luminosidade da inteligência e do amor originais. Quem faz tal experiência reencontra o próprio coração, recriado no amor de Deus" "Ó Amor, mergulha meu espírito nas águas deste Coração melífluo, sepultando nas profundezas da divina misericórdia todo o peso da minha iniqüidade e da minha negligência. Restitui-me, em Cristo, uma inteligência luminosa e um afeto puro, para que – através de ti – eu possa ter um coração imune, desembaraçado e livre". "Ó Senhor, desejo louvar-te e agradecer-te porque, apesar da minha indignidade, mantiveste tua transbordante ternura para comigo. Quero ainda louvar-te porque alguns, ao ler estas páginas, poderão saborear na intimidade de seu ser as mais elevadas experiências. De fato, por meio do alfabeto, alcançam a ciência da filosofia aqueles que querem estudar; similarmente, por meio de sinais que, na verdade, são apenas figuras retratadas, os leitores destas páginas aprenderão a degustar dentro de si mesmos aquele maná escondido que não poderia ser associado a nenhuma mistura de imagens corpóreas, e de cujo sabor somente quem já experimentou sentirá fome". "Naquela mesma hora, quando minha memória ainda se ocupava devotamente com tais pensamentos, senti que me estava sendo divinamente concedido – a mim, tão indigna que sou – aquilo mesmo que havia pedido na oração, isto é: no interior de meu coração, como sendo um lugar corpóreo, eu soube que tinham sido impressos os sinais de tuas santíssimas chagas, dignas de respeito e adoração". "Deus onipotente e Mestre generoso de todo bem, digna-te garantir-nos sempre este alimento enquanto caminhamos em nosso exílio, na espera de que – contemplando com rosto descoberto a glória do Cristo – sejamos transformados à sua própria imagem, de luz em luz, como sob suavíssimo sopro". "Durante uma pregação feita na capela por um frade, este dizia: 'O amor é um dardo de ouro. Se o homem o lança sobre qualquer outra pessoa, ele a possui de algum modo. Seria, pois, loucura usar o amor para os bens terrestres, mas negligenciar os bens celestes'. Inflamada por tais palavras, Gertrudes disse ao Senhor: 'Que me seja concedido este dardo! Então, sem esperar um segundo, eu me esforçaria para vos transpassar com ele, a Vós, único bem-amado de minha alma, para ter-vos sempre comigo'. Ela ainda pronunciava tais palavras, quando viu o Senhor que a mirava com uma flecha áurea e lhe dizia: 'Tu planejas ferir-me, caso possuísses uma flecha de ouro. Mas eis que sou eu quem a tenho! Desejo com ela transpassar-te de tal modo, que jamais poderás sarar'". "E era uma flecha com três curvaturas: no início, no meio e na extremidade. Assim se mostrava o tríplice efeito que esta flecha provocava na alma ferida. Quando a primeira curvatura penetra na alma, sua ferida a torna semelhante a um enfermo, que sente somente desgosto pelos bens passageiros: não há coisa alguma neste mundo que lhe assegure prazer nem consolação. A segunda, ao penetrar na alma, a faz parecer uma pessoa com alta febre que, exasperada pela dor, reclama pelo remédio com extrema impaciência. Assim é a alma nesta situação: o desejo que possui é tão intenso que, sem conseguir dominá-lo nem moderá-lo, arde por unir-se a Deus. E quando isto lhe parece impossível, se acaso ela não o experimenta, chega quase a perder o respiro. A terceira curvatura, enfim, quando penetra na alma, a faz elevar-se a uma altura tão sublime que nenhum de nós pode imaginar. A tal ponto, que uma mínima descrição deste estado nos faria dizer que a alma – como se fosse separada de seu corpo – estivesse toda mergulhada em delícias, nas torrentes do néctar da divindade". "Ó Fogo verdadeiro que tudo consome! Ó Fogo operante, cujo poder queima os vícios para manifestar à alma o suave vigor de tua unção! Só em ti nos é dada a força que restaura, re-formando nosso ser segundo a imagem e semelhança original". "Eu recitava esta prece: 'Pelo vosso Coração transpassado, ó Senhor amantíssimo, dignai-vos transpassar meu coração com os dardos de vosso amor, para que nada de terrestre nele permaneça e que ele seja repleto unicamente da virtude de vossa divindade'. Tendo assim rezado, bem depressa percebi – através de uma graça interior e de um sinal externo que vi surgir sobre o crucifixo – que minha prece havia chegado ao vosso Coração. Com efeito, depois de receber o sacramento da vida, já de volta ao meu lugar, pareceu-me ver partir do lado direito do crucifixo que está impresso sobre meu livro algo como um raio de sol, cuja extremidade tinha forma de uma flecha. Este raio emanava vigorosamente em minha direção. Conteve-se por um instante, depois se lançou novamente e permaneceu fixo, atraindo toda a minha afeição". "Ainda que sabia eu que me achava no dormitorio, me parecia que me encontrava no lugar do coro aonde costumava fazer minhas tibias orações e ouvi estas palavras 'eu te salvarei e te livrarei. Não Temas'. Quando o Senhor disse isto, extendeu sua mão mão fina e delicada até tocar a minha, como para confirmar sua promessa e proseguiu: 'Has mordido o pó com meus inimigos e has tratado de extrair mel dos espinhos. Volve-te agora a Mim, e minhas delicias divinas serão para ti como vinho'". "Então vi na mão que pouco antes se me havía dado como prenda, as joias radiantes que anularam a pena de morte que havia sobre nós".

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